Inicialmente, o contato com a argila pode ser realizado de várias formas: só com o olhar; tocar com as pontas dos dedos; tocar com as palmas das mãos; com as mãos fechando-se; espremendo; socando... É uma atividade de grande exploração, que apoia o contato e a interação entre o material, o sujeito e o profissional envolvido, segundo o método “Argila: Espelho da Auto-Expressão”.
Primeiramente, o sujeito recebe a argila de forma passiva para depois iniciar um contato mais direto e de maior grandeza. Pode ser apenas com as pontas dos dedos, como num envolvimento tênue, e mesmo que ali se revele o padrão de funcionamento relacional, onde num dos aspectos poderia ser o medo da rejeição em se relacionar, com a argila isso nunca acontecerá. Ela nunca o rejeitará, e sim respeitará a forma como ele queira com ela se relacionar, sem críticas, sem apelos invasivos, sem desqualificações. Bem pelo contrário: a argila entende o desejo do sujeito e o realiza pelo contato de suas mãos. Pode sim rejeitar a argila, não querendo mais com ela se relacionar, escolhendo parar a atividade e desta forma parando o contato.
Ao estar no contato de forma inteira, sucede aí uma sensação de parceria, envolvimento e crescimento relacional, como se fosse uma dança, em que o sujeito escolhe o tom da música e qual a melodia e o ritmo que deseja bailar: valsa, samba, sertaneja, rock, salsa... O sinal diferenciado que irá satisfazer suas exigências e necessidades, que podem variar, mas a escolha é determinada pelo autor.
Inicialmente, o contato é mais exploratório, para depois haver um envolvimento mais íntimo, passando a usar toda a força da mão. Aos poucos, o toque pode ficar mais forte, preciso, e ali se estabelecerá outra forma de relação, mais agressiva, destrutiva ou de força e empoderamento.
Nesta experimentação do contato com a argila, revelam-se ali as diferentes experiências de contatos com outras pessoas, podendo ter sido um contato apropriado e saudável, permitindo a sensação de ser provido de bem-estar e afeto, ou foi de natureza remota e impessoal.
A argila pode ser um meio para um aprendizado das vivências do tocar e ser tocado, ser entendido, compreendido, pegar ou soltar, apegar ou desapegar, expandir ou conter, aproximar ou afastar. Enfim, escutar o desejo do sujeito. A argila participa do processo interno do indivíduo com seu movimento contínuo. Mesmo após o sujeito ter terminado sua obra, ela deixará visível o que ali necessitará ser alterado ou fortalecido.
A argila permite ao sujeito obter informações de si nas obras esculpidas, e como o nobre artista já dizia após olhar para sua obra: “fala!” Aqui não há necessidade de dizer à obra em argila que fale. Ela se comunica por si própria, após o contato único e profundo com o seu autor. O tato, o elo tátil com a argila, desencadeia uma onda de sentimentos que vai além do que vejo e cheiro. Ambos, argila e sujeito, desenvolvem um conjunto complexo de potencialidades – o papel de criar de um lado e o de se tornar visível e presente do outro.
Altamente relaxante no seu manuseio, a argila contribui fisiologicamente para desestressar a pessoa. Psicologicamente, o envolvimento do sujeito com a argila é de intenso aproveitamento. Ela recebe as pistas do mundo interno de seu autor e, como um ser treinado e obediente, traduz com fidedignidade metafórica o que ali foi informado. Pelos movimentos exploratórios com as mãos, proporciona a descoberta das nuances, limites e grandezas de seu interior. A pele e a retina, por seus receptores sensoriais, captam regularidades e padrões de estímulos e os convertem prontamente em imagens no cérebro.
O contato com a argila reproduz a imagem corporal e a imagem sensível que o sujeito tem de si próprio. Ela pode possibilitar um aprendizado, uma reconexão, um religamento de satisfação tátil, proporcionado no relaxamento o reviver do contato.
A argila possibilita o experimentar literal do “sair da casca”, para deixar fluir o que potencialmente tem internamente de calor, amor e criação. Na interação sujeito/argila, este potencial é liberado para experimentar o recontato que pode ter se perdido ou não ter sido vivido em momentos necessários de seu desenvolvimento.
No manuseio com a argila, o sujeito tem a possibilidade de uma organização da consciência corporal, uma vez que esta é produzida pela estimulação do corpo e, principalmente, através da pele, o que irá gerar uma sensação de autoestima pelo relacionamento positivo a respeito de si próprio. Quanto mais o sujeito se comunica através do tato, mais elevada é sua autoestima, pois é clara a sua individualidade e a presentificação do seu desejo. Quando as esculturas são frágeis e com pouco volume para serem o que potencialmente poderiam ser ao aparecerem, podem conferir a dificuldade com a autoestima.
O terapeuta, participando da atividade de argila com seu cliente, abre a experiência do contato, a troca, o ser respeitado, visto e encontrado numa atividade lúdica.
A visão é o sensor dos sentidos. Ela é o meio do que é visto e levado para o cérebro, que então julga a informação. No entanto, o tato, no aspecto social, não tem qualidade reprobatória. É aberto e livre, isento de censura, reprovações ou inibições.
As mãos são os membros mais ativos do corpo e que buscam o poder na ação simbólica de poderem realizar no manuseio da argila o que vai além do que a mente lhes coordena.
As tramas relacionais podem ser percebidas ao serem refletidas nos espelhos da representabilidade da argila. A forma como o sujeito faz o contato com a argila pode parecer um alívio, pela redução da tensão, ou pode ser algo altamente ativador, como também tranquilizador pelo controle que tem na argila.
O contato com esse material é uma forma de o sujeito sair do limbo do isolamento em relação ao próprio corpo. É também uma forma de ousar, tornar-se um ser possível, de se aceitar no que consegue ser pela escultura realizada.
Assim, ouse e argilize criativamente, para revelar-se no ser único que você é